terça-feira, 29 de julho de 2014

Brainbox (3) - A Voz

Se está tudo quieto, certamente há algo errado. Não falta devaneios, muito pelo contrário. E o que me intriga é exatamente isso: silêncio onde há barulho demais. Talvez eu tenha perdido a audição, não sei. Há muito a ser dito, mas às vezes falta voz, ou algo a impede de sair. A rouquidão me preocupa, isso não está certo. Perco o sono procurando o que perdi, se adormeço é como se não o tivesse feito. Percebe como o silêncio está errado? Há muito a ser dito, escrito. Ocupo-me comigo e esqueço-me de mim. Vago mecanicamente pelos dias, mas sou instável o suficiente para arrepender-me e retomar a voz. Volto a tempo, permito-me ser, tatear o errado, expressar o incerto, porque é assim que tem que ser e cá estou. Não deve e nem pode haver silêncio: sempre há o que ser dito. Se um dia eu me abstiver da escrita, haverá duas hipóteses: ou aprendi a lidar com o que está aqui dentro e o silêncio passou a bastar-me, ou tornei-me estúpido o suficiente para acomodar-me nele. Provavelmente a segunda.

sábado, 26 de julho de 2014

Brainbox

Uma das partes mais difíceis do término de um relacionamento é quando esse término já começou a acontecer ao longo dele.
É a incerteza se é de fato um fim, ou se é apenas uma pausa para um ressurgir ainda melhor. É incerteza se esse fim simboliza uma dúvida, um teste – Como vai ser? O que eu vou sentir? – ou se é um veredicto – acabou, definitivamente. É a incerteza se o outro vai seguir em frente sem você, se o outro vai se dar conta que pode amar outro alguém e ser feliz dessa maneira, ou se o outro ainda tem planos com você, que apesar de tudo em algum lugar está disposto a te ter de volta. É difícil porque você simplesmente não sabe a maneira de seguir em frente. Ou melhor, sabe, sempre sabe, mas no fundo tem medo: e se eu esquecer e o outro me quiser de volta? E se eu permanecer lembrando e depois me dar conta que fiquei para trás?
É difícil perceber que é quase impossível não lembrar o outro, que essa pessoa impregnou tudo à sua volta, desde as suas saídas pra “tomar uma” com seus amigos até naquele acorde mais bonito que você pode fazer em seu instrumento, ou filme, ou seriado, que seja. Você até tenta esquecer, mas o outro se tornou tão parte de você que para fazer isso você realmente precisaria arrancar um pedaço de si para seguir em frente. É como entrar em uma guerra... Sem um braço, sem uma perna – um coração. Como lutar? Você sabe que conseguiria, que pode superar, mas esbarra nas incertezas e paralisa novamente nesse círculo vicioso. E esse círculo vicioso dói. E o pior é pensar que, enquanto você está nele, o outro já decidiu que realmente quer viver sem você, que para o outro você agora é um passado - e só. E dói.